A bacia
hidrográfica do rio Doce apresenta uma significativa extensão territorial,
cerca de 83.400 km2, dos quais 86% pertencem ao Estado de Minas Gerais e o
restante ao Estado do Espírito Santo. Abrange, total ou parcialmente, áreas de
228 municípios, sendo 202 em Minas Gerais e 26 no Espírito Santo e possui uma
população total da ordem de 3,1 milhões de habitantes.
O rio Doce, com uma extensão de 853
km, tem como formadores os rios Piranga e Carmo, cujas nascentes estão situadas
nas encostas das serras da Mantiqueira e Espinhaço, onde as altitudes atingem
cerca de 1.200 m. Seus principais afluentes são: pela margem esquerda os rios
Piracicaba, Santo Antônio e Suaçuí Grande, em Minas Gerais, Pancas e São José,
no Espírito Santo; pela margem direita os rios Casca, Matipó, Caratinga, Cuieté
e Manhuaçu, em Minas Gerais, e Guandu, no Espírito Santo.
Para se ter uma idéia da sua
importância econômica, deve-se saber que a bacia abriga o maior complexo
siderúrgico da América Latina. Três das cinco maiores empresas de Minas Gerais
no ano de 2000, a Companhia Siderúrgica Belgo Mineira, a ACESITA e a USIMINAS,
lá operam. Além disso, lá se encontra a maior mineradora a céu aberto do mundo,
a Companhia Vale do Rio Doce. Tais empreendimentos industriais, que apresentam
níveis de qualidade e produtividade industrial que estão entre os maiores do
mundo, desempenham papel significativo nas exportações brasileiras de minério
de ferro, aços e celulose. Além deles, a bacia contribui na geração de divisas
pelas exportações de café (MG e ES) e polpa de frutas (ES).
A partir de dados da Fundação João
Pinheiro (2001), pode-se inferir que o PIB da bacia do rio Doce representa em
torno de 15% do PIB do Estado de Minas Gerais (estimado em 122 bilhões em
2001), sendo que somente o município de Ipatinga contribui com 5,4% daquele
valor.
Localização: A bacia hidrográfica do rio Doce está situada na região
Sudeste, entre os paralelos 18°45' e 21°15' de latitude sul e os meridianos
39°55' e 43°45' de longitude oeste, compreendendo uma área de drenagem de cerca
de 83.400 km², dos quais 86% pertencem ao Estado de Minas Gerais e o restante
ao Estado do Espírito Santo. Limita-se ao sul com a bacia hidrográfica do rio
Paraíba do Sul, a oeste com a bacia do rio São Francisco, e, em pequena
extensão, com a do rio Grande. Ao norte, limita-se com a bacia dos rios
Jequitinhonha e Mucuri e a noroeste com a bacia do rio São Mateus.
O rio Piranga é considerado o
principal formador do rio Doce, que recebe este nome quando do encontro do rio
Piranga com o rio do Carmo. O rio Piranga nasce nas serras da Mantiqueira e do
Espinhaço, limites oeste e sul da bacia, no município de Ressaquinha, em Minas
Gerais, e o rio do Carmo nasce no município de Ouro Preto.
De maneira geral, as nascentes dos
formadores do rio Doce estão em altitudes superiores a 1.000 m. Ao longo de seu
curso, sobretudo a partir da cidade de São José do Goiabal, o rio Doce segue em
altitudes inferiores a 300 m. Suas águas percorrem cerca de 853 km desde a
nascente até o oceano Atlântico, no povoado de Regência, no Estado do Espírito
Santo.
População: Segundo o Anuário Estatístico do
Brasil (IBGE) residem na bacia cerca de 3.100.000 habitantes, com a população
urbana representando 68,7% da população total. Observa-se que a taxa de
crescimento urbano na bacia é inferior às verificadas nos dois Estados. O êxodo
rural é generalizado na área da bacia. Entre os anos de 1970 e 1991 a região
perdeu 615.000 habitantes (IBGE). Na região do médio rio Doce, entre
Tumiritinga e Aimorés, houve uma redução demográfica da ordem de 40% no mesmo
período (IBGE).
Com base nos dados demográficos,
constatou-se que o Vale do Aço tem o maior adensamento populacional da bacia e
o que fluxo migratório direciona-se, sobretudo, para as maiores cidades, como
Ipatinga e Governador Valadares. Em decorrência, há uma tendência de diminuição
populacional nos municípios com população de até 20.000 habitantes, que
representam cerca de 93% dos municípios da bacia do rio Doce.
Economia: A economia da bacia está
baseada principalmente nas seguintes atividades:
agricultura: pecuária de leite e corte,
suinocultura, café, cana-de-açúcar, hortifrutigranjeiros e cacau;
indústria: siderurgia, metalurgia, mecânica,
química, alimentícia, álcool, têxtil, curtume, papel e celulose; e mineração:
ferro, ouro, bauxita, manganês, rochas calcáreas e pedras preciosas.
A bacia do rio Doce tem uma capacidade de geração de cerca
de 4.055 MW, sendo:
320 MW instalados;
18 MW em construção;
282 MW em projetos básicos;
300 MW em estudos de viabilidade; e
3.029 MW inventariados.
Além destes, existe um potencial remanescente de 106 MW,
potencialmente aproveitáveis por PCH's (Pequenas
Centrais Hidrelétricas).
Clima: Segundo a classificação de Köppen,
identificam-se basicamente três tipos climáticos na bacia, a saber:
- o clima tropical de altitude com chuvas de verão e verões frescos, presente nas vertentes das serras da Mantiqueira e do Espinhaço e nas nascentes do rio Doce;
- o clima tropical de altitude com chuvas de verão e verões quentes, presentes nas nascentes de seus afluentes; e o clima quente com chuvas de verão, presentes nos trechos médio e baixo do rio Doce e de seus afluentes.
- A precipitação média anual na bacia varia de 1.500 mm, nas nascentes localizadas nas serras da Mantiqueira e do Espinhaço, a 900 mm, na região da cidade de Aimorés-MG, voltando a crescer em direção ao litoral.
Relevo: Levando-se em consideração que não
só as diferenças altimétricas que definem os grandes compartimentos
topográficos, bem como critérios de ordem lito-estrutural, encontram-se na área
quatro grandes unidades geomorfológicas.
Planaltos Dissecados do centro-sul e do leste de
Minas
Corresponde a mais extensa unidade geomorfológica, ocupando
cerca de 70% da área. É constituída predominantemente por formas de dissecação
fluvial do tipo colinas, cristas, pontões e vales encaixados, elaboradas sobre
rochas granito-gnáissicas do embasamento pré-cambriano.
Depressão do Rio Doce: Ao longo do rio Doce e seus
afluentes encontra-se uma zona rebaixada, com altitudes variando de 250 a 500
m, configurando-se como uma depressão interplanáltica. O contato com as formas
de relevo dos planaltos circundantes é muito bem marcado por desníveis
altimétricos abruptos. No seu interior encontram-se elevações que são residuais
dos Planaltos Dissecados do Centro-Sul e do Leste de Minas.
O
piso da Depressão é constituído por rochas do complexo
Gnáissico-Magmático-Metamórfico, predominando biotita-gnaisse, rochas
graníticas e graníto-gnáissicas, com algumas ocorrências de rochas do complexo
Charnoquítico.
Rio Doce - 2012
Rio Doce - 2012
Rio Doce - 06/02/2015
A
Depressão se caracteriza por uma topografia de colinas com declividade média,
planícies fluviais colmatadas, rampas de colúvio e lagos de barragem natural.
Serra do Espinhaço: É uma unidade morfoestrutural que se caracteriza por
um conjunto de relevos ruiniformes resultantes da atuação de processos de
dissecação fluvial em rochas predominantemente quartzíticas do supergrupo
Espinhaço e grupo Macaúbas.
Localiza-se
na extremidade ocidental da área, funcionando como o divisor de águas das
bacias dos rios Doce, São Francisco e Jequitinhonha.
Quadrilátero Ferrífero: É um conjunto de relevos
acidentados, localizados na extremidade oriental da área. Apresenta altitudes
elevadas, que variam de 1.000 a 1.700 m, sendo que na serra do Caraça atingem
até 2.064 m.
Configura-se
como unidade morfoestrutural onde a estrutura geológica exerceu um importante
controle no processo de dissecação do relevo, no qual sobressaem os
alinhamentos de cristas com vales encaixados e vertentes ravinadas.
Encontram-se
no Quadrilátero Ferrífero algumas das nascentes do rio Piracicaba, um dos
principais afluentes do rio Doce.
Latosolo Vermelho Amarelo: São solos acentuadamente drenados e ocorrem
principalmente nos planaltos dissecados. Este agrupamento apresentou, na
região, solos com baixa saturação de bases (distróficos) e alta saturação com
alumínio (álicos), sendo que os últimos são predominantes. São formados de
rochas predominantemente gnaissicas, leuco e mesocráticas, sobretudo de caráter
ácido, magmáticos charnoquitos, xistos e de depósitos argilo-arenosos.
Quanto
ao relevo, esses solos apresentam desde o plano e suave ondulado até montanhoso
com grande predominância de forte ondulado a montanhoso.
Podzólico Vermelho Amarelo: Estes solos foram formados a partir de gnaisses
diversos, além de charnoquitos, xistos e magmáticos.
Quanto
ao relevo, ocorre desde o plano e suave ondulado até o forte ondulado e
montanhoso, com predominância do último.
O
uso agrícola destes solos é com pastagem de capim colonião nos solos
eutróficos, enquanto que nos vales planta-se milho, arroz, etc.
A
principal limitação destes solos é o relevo. Tendo em vista que a quase
totalidade da área ocupada com podizólio está em relevo forte ondulado e/ou
montanhoso, e devido ao problema da grande susceptibilidade à erosão que esses
tipos de solo apresenta, a sua utilização fica restrita ao uso com pastagens e
culturas permanentes de ciclo longo, tais como café e citrus.
Outros
tipos de solo que ocorrem em menor percentagem são: latossolo húmico, solos
litólicos, cambissolos e afloramentos de rochas, dentre outros.
Uso da terra e cobertura vegetal: Originalmente coberta por Mata Atlântica, a intensa
devastação restringiu o revestimento florístico originário basicamente à área
do Parque Estadual do Rio Doce. As demais matas correspondem a uma vegetação
que sofreu influência antrópica intensa, constituindo-se em vegetação secundária.
Estima-se que menos de 7% da área possui hoje cobertura vegetal. Destes, menos
de 1% encontra-se em estágio primário .
Segundo pesquisas realizadas pela Fundação Centro
Tecnológico de Minas Gerais - CETEC, 95% das terras da bacia constituem pastos
e capoeiras, demonstrando a predominância da atividade pecuária. As espécies
mais difundidas na formação de pastagens são o capim gordura (Melinis
minutiflora) em áreas situadas acima da cota altimétrica de 800 m e o colonião
(Panicum maximum) abaixo dessa altitude. As florestas plantadas, constituídas
principalmente por espécies do gênero Eucaliptus, são expressivas no médio rio
Doce. Quase todos os reflorestamentos pertencem às siderúrgicas Acesita e Belgo
Mineira ou à Cenibra, produtora de celulose. Os campos e áreas cultivadas
apresentam-se em menores proporções.
Devido às características dos solos da bacia do rio Doce e
ao manejo inadequado, a erosão tem se tornado um dos maiores problemas
ambientais na região.
As questões hídricas e
ambientais da bacia do rio Doce
Uma análise dos processos de ocupação e crescimento
econômico da bacia do rio Doce, concentrados principalmente nos últimos 50
anos, mostra que aconteceram de uma forma totalmente desordenada, sem levar em
conta os possíveis reflexos futuros.
Na zona rural encontram-se vastas áreas em estado avançado
de desertificação, lagoas eutrofizadas, nascentes desprotegidas e processos
erosivos. Da cobertura vegetal original, mais de 90% foi extinta. Do restante,
menos de 1% encontra-se em estágio primário.
Nas cidades, praticamente todo o esgoto e lixo são lançados
nos cursos d'água ou em suas margens. Associadas a estes, concentrações
pontuais de grandes indústrias - siderurgia e celulose, no Vale do Aço,
suinocultura e beneficiadoras de cana-de-açúcar, em Ponte Nova, e mineração, em
Itabira - podem comprometer tanto qualitativa quanto quantitativamente os usos
múltiplos dos recursos hídricos. As captações superficiais de água no rio
Piracicaba para algumas indústrias estão operando, em algumas situações, em
condições adversas. A captação para consumo humano no Vale do Aço, realizada
pela COPASA via poços profundos situados às margens do rio Piracicaba, também
vive momentos preocupantes, em função das variações dos níveis piezométricos.
Na bacia do rio Santo Antônio as barragens das hidrelétricas estão, em alguns
casos, com cerca de 60% da sua capacidade de armazenamento de água, em vista
dos significativos processos erosivos que ocorrem nessa bacia.
As consequências socioeconômicas são diversas e complexas.
Na zona rural, por exemplo, dezenas de pequenos conflitos entre produtores
rurais, que, no intuito de solucionar seus problemas particulares, acabam por
interferir em todo o curso d'água a jusante.
Em decorrência disso, apenas a região do médio rio Doce
(Tumiritinga a Aimorés) - que se encontra em estado avançado de desertificação
- perdeu, entre as décadas de 70 e 80, cerca de 40% de sua população (IBGE). Em
Minas Gerais, a bacia do rio Doce é caracterizada como a região que mais perdeu
população: 615.259 habitantes entre 1970 e 1991 .
No Estado de Espírito Santo, o rio Doce representa o maior
manancial de água doce. O rio, que flui ali com declividades menores, forma
vastas áreas assoreadas em seu leito. Junto à sua foz, suas águas são
transpostas para o abastecimento de outra indústria de celulose, a Aracruz
Celulose. Os sólidos suspensos e o lixo em suas águas têm causado sérios danos
ambientais em seu estuário, região de desova da tartaruga marinha, monitorada
pelo projeto Tamar.
Amei a matéria, não sabia nem metade sobre a matéria, muito interessante, valeu!
ResponderExcluirCom ela, as pessoas que acham que as questões hídricas e ambientais são perda de tempo, podem pensar um pouquinho e refletir sobre o assunto.
ResponderExcluirFoi incrível a forma em que vc nos mostrou a realidade , a forma em que nós mostrou o problema e a origem , o que precisa é que a sociedade se concientize e passem a tomar alguma atitude ! Parabéns pelo trabalho
ResponderExcluirO texto acima é de grande importância , pelo fato de trazer conhecimento naquilo que não ainda se sabe ... Pude perceber que o rio doce está em um estado podemos dizer que precário , um rio que antes não era poluído , que era de uma água realmente saudável , que hoje está totalmente poluído por esgotos e lixos . E a culpa é nossa que não soubemos preservar , quê por esses anos gastamos água inadequadamente e além de tudo ainda viemos a poluir ... Não posso dizer se ainda tem volta , se ainda podemos mudar essa situação pois a população de hoje em dia já se habituou em poluir e destruir o meio em que se vive ...
ResponderExcluirJaciara 2 ano tarde